quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

This Is the Way the World Ends


Ontem, mais ou menos por acaso, vi o último episódio da sexta temporada da série “Dexter” (RTP 2). Sei que é da sexta temporada por fui agora mesmo ver que a série já tem oito e que aquele era o 12.º episódio da sexta série. Devo ter visto na íntegra as primeiras duas ou três temporadas, na altura a série passava na segunda à noite, até achar que ficava demasiado nervoso com as embrulhadas de um serial killer. É ambivalente, estranho e principalmente desconfortável o sentimento de ter simpatia por um criminoso. Deve vir daí o sucesso da série. Mas precisamente por isso deixei de vê-la.

Mas vi o episódio de ontem. Dizia “último” no canto superior esquerdo. Que narrativa tão bíblica. Um náufrago que é salvo por uma barca que leva à terra prometida (deveria ter contado se eram oito os casais da barca mais Noé). Uma festa do infantário que é precisamente a encenação da entrada nos animais na barca. Um lugar alto onde vai ser sacrificado um inocente, filho único, um cordeiro, no dia do juízo final, no dia em que o sol se apaga. Um altar onde vai ser sacrificado um criminoso, sob o olhar do Crucificado. E a última afirmação de Dexter, com que encerra a temporada, quando se apercebe que alguém o vê a assassinar um criminoso: “Oh God”.


1 comentário:

Euro2cent disse...

Os guionistas americanos são excelentes profissionais, capazes de tocar o público como uma viola - se eles querem, o público ri-se, se viram para o outro lado, o público chora baba e ranho como um fedelho desmamado.

As culturas protestantes anglo-saxónicas são como árvores cuja seiva é Shakespeare e a Bíblia KJV (King James Version, feita pelos contemporaneos do Shakespeare, e possivelmente o próprio). Metade dos titulos de livros são alusões a uma dessas fontes

Enquanto os católicos pouco olham para o Velho Testamento, e se guiam pelo Novo, os protestantes, como bons judeus, citam tonitruantemente o Velho.

As cenas todas mais badalhocas, desde as filhas de Lot ao sacrificio de Jacob, fazem parte da herança cultural. É o que dar pôr - durante quinhentos anos - pregadores avulsos a ler e pregar a Biblia, em vez de profissionais altamente treinados.

"No surprise there".

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...