sexta-feira, 26 de julho de 2013

Francisco, o diabo e o mal

Cartune do "Público" de hoje

O DN traz a seguinte afirmação, logo a abrir a peça, que me fez pensar que o Papa Francisco finalmente é claro sobre a existência do diabo:
O papa Francisco apelou hoje [24 de julho, ler online aqui] aos fiéis para não perderam a esperança, afirmando que ainda que o diabo exista, Deus é o mais forte, e colocando ainda o povo latino-americano sob a proteção da Virgem de Aparecida.
Só com esta afirmação, parecia-me claro que "diabo" deixava de ser uma representação simbólica do mal para poder ser uma força pessoal, um ser, como afirma a DTDD (doutrina tradicional do diabo e do demónio). E o DN prosseguia:
"Ainda que o diabo, o mal, exista, não é o mais forte, o mais forte é Deus", disse o papa Francisco durante a celebração da missa no Santuário de Aparecida, no interior de São Paulo, a cerca de 200 quilómetros do Rio de Janeiro.
Mas agora já temos uma dissonância em relação à DTDD, que alguns gostam tanto de ver refletida nas palavras de Francisco. De acordo com a frase, o diabo é o mal. Ou então: "mal" esclarece o que Francisco pensa que é o diabo, podendo nós presumir que não se trata do ser pessoal da DDTD, mas do mal cuja existência e efeitos todos notamos, sendo o diabo símbolo de todo o mal. Na realidade, segundo a DDTD, mal e diabo não se equivalem, não são intermutáveis. O diabo está ao serviço do mal, dedicado ao mal, mas não é o mal. Ora, na teologia franciscana, diabo e mal equivalem-se, bem na linha do que propõem alguns teólogos e exegetas: interpretar as referências bíblicas (principalmente neotestamentárias) ao diabo como sendo alusões ao mal (o demónio é outra coisa).

Mas o que disse mesmo Francisco? Vamos ver o que vem no sítio do Vaticano (texto na íntegra aqui):
A segunda leitura da Missa apresenta uma cena dramática: uma mulher – figura de Maria e da Igreja – sendo perseguida por um Dragão – o diabo - que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo (cfr. Ap 12,13a.15-16a). Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros.

Parece-me claro que temos todos os elementos para interpretar o diabo, "o dragão", como símbolo do mal e não como um ser pessoal (anjo) dedicado a tentar-nos.

3 comentários:

Anónimo disse...

caro Jorge veja esta noticia
http://www.aciprensa.com/noticias/fotos-abortistas-asaltan-y-profanan-catedral-de-santiago-de-chile-28424/#.UfK7LY3vuSo
afinal de contas nunca saberemos se se trata de um ser pessoal ainda que se atender-mos à tradição da Igreja (que também não será assim tão 'disparatada'!!!!) e a uma análise teológica das escrituras é para aí que se tende. É-me indiferente, agora que na nossa vida quando somos assolados pelo mal, não tanto uma fatalidade que nos sucede ou um acidente, mas quando somos tentados a cometer acções que vão claramente contra o que bem sabemos ser o bem, a coisa fica meio estranha. a mim não me causa qq confusão pensar que ele existe e é um ser pessoal, pois também dizem os Papas e a Igreja que no limite nós somos tb sempre mais fortes do que o dito, assim o queiramos.
saudações

Anónimo disse...


Não vejo qualquer problemas em que os teólogos assumam que o diabo é a personificação do mal. Um passo importante já foi dado.

O problema está em que não assumem de uma vez por todas que Deus é a personificação do bem e acabem de uma vez com estes mitos de um povo que vivia no deserto. Estas mitologias não são dignas de povos que se dizem evoluídos.

No entanto tenho esperança que um dia todas as religiões sejam erradicadas, e se acabe de vez com o veneno segregado por elas. E assim, o homem seja de facto livre.

Anónimo disse...

Livre!!!!!!???? Pois é. Ja dá para ver um pouco o que se passa com esta teresa guilherminizaçao da sociedade - um conjunto de pessoas humanas mas cujos habitos e praticas mais se vao aproximando dos animais - viver o instante e seguir os impulsos mais imediatos como se não existisse nem o outro nem o amanha. O homem sem horizontes descamba mt facilmente e contrariamente ao q diz fica mt menos livre - fica escravo do seu egoismo, esta sim a pior escravatura de todas....

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No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...