quinta-feira, 22 de março de 2012

Para compreender a "nova evangelização"


A nova evangelização. Um desafio para sair da indiferença
Rino Fisichella
Paulus
176 páginas

No dia 29 de março de 2010 – estão quase a completar-se dois anos – o arcebispo Rino Fisichella foi convocado para uma audiência privada com Bento XVI. Ao contrário das outras vezes, D. Fisichella não foi avisado quanto ao assunto da reunião, o que lhe causou alguma intranquilidade, até pelos inevitáveis “rumores”, “desporto largamente praticado em alguns ambientes”, que muitas vezes se ouvem acerca de transferências, como relata no início deste livro.

D. Fisichella conta como foi o encontro com Bento XVI: “Nunca poderia ter pensado, ao sentar-me à frente de Bento XVI sorridente e contante, que ele textualmente me dissesse: «Andei a pensar muito nos últimos meses. Desejo instituir um dicastério para a nova evangelização e peço-lhe que aceite ser o presidente. Posso passar-lhe alguns apontamentos que tenho feito. O que é que pensa?» Estava muito surpreendido e apelas lhe disse: «Santo Padre, é um grande desafio». O colóquio continuou com uma troca de considerações sobre o assunto, até se esboçar a estrutura do novo dicastério. Saí da audiência muito contente. O temor que levava comigo transformara-se em entusiasmo” (pág. 6).

O autor acrescenta que, tendo andado nos últimos trinta anos a estudar, ensinar e escrever sobre como apresentar o cristianismo ao homem de hoje, sentiu o convite de Bento XVI como uma prova: “Andaste tantos anos a estudar, agora prova-me que não é só teoria”.

Este livro é uma leitura pessoal de como o presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização entende a “nova evangelização” e serve, no fundo, para preparar o sínodo dos bispos convocado para outubro de 2012. Como é sabido, o sínodo tem com tema de fundo precisamente a nova evangelização.

D. Rino Fisichella começa por dizer que prefere a expressão “nova evangelização” ao termo “reevangelização”. Fazendo uma breve história da expressão, popularizada por João Paulo II, termina o segundo capítulo apresentando o que pode ser uma definição: “Uma forma mediante a qual o Evangelho de sempre é anunciado com novo entusiasmo, novas linguagens e novas metodologias capazes de transmitir o sentido profundo que permanece inalterado”.

Nos capítulos seguintes, o arcebispo escreve sobre o contexto de secularismo, desorientação e crise no mundo ocidental em que a nova evangelização há de se posta em prática (cap. III), afirma a centralidade de Jesus Cristo no processo (IV), aponta os lugares da nova evangelização (a liturgia, a caridade, o ecumenismo, a imigração e a comunicação, cap. V), fala das perspetivas (o cenário da cultura, a nova antropologia e a missão da Igreja, cap. VI), dos novos evangelizadores (que são os de sempre: o clero, os consagrados e os leigos, cap. VII). Os dois últimos capítulos antes da síntese final do cap. X são dedicados à beleza e à arte (cap. VIII) e ao autêntico "ícone da nova evangelização" que é a Basílica da Sagrada Família, em Barcelona.

Consagrado pelo Papa no dia 17 de novembro de 2010, o templo, ainda em construção, sendo um “catecismo de pedra”, “provoca-nos para ir mais além”, “obriga ao sentido da transcendência”, “traça o percurso essencial para decifrar o enigma da nossa condição pessoa”. E isso também é nova evangelização.

Breve história da “nova evangelização”
1979 – No documento de Puebla (dos bispos da América Latina reunidos nesta cidade mexicana), afirma-se que há “mudanças socioculturais que exigem uma nova evangelização”.
1979 – João Paulo II, na segunda visita à Polónia, usa pela primeira vez a expressão.
1983 – João Paulo II, no Haiti, falando aos bispos da América Latina, convida-os a empenharem-se numa nova evangelização: “Nova no seu ardor, nos seus métodos e nas suas expressões”.
1990 – Na encíclica “Redemptoris missio”, João Paulo II afirma que é necessária uma nova evangelização “onde grupos inteiros de batizados perderam o sentido vivo da fé”.
2010 – É instituído no dia 21 de setembro o Conselho Pontifício para a Promoção da nova Evangelização.

2 comentários:

Anónimo disse...

Já li bastantes textos deste Rino. Não é grande espingarda...

Anónimo disse...

Ao anónimo anterior,

Este livro não é um romance, e nem me consta que Rino Fisichella escreva romances...
Leia-o... verá que é mais frutífero que mortífero...

P. Campos

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