sábado, 24 de março de 2012

Anselmo Borges: Fim do, de/um mundo

John Eric Thomson 


Texto de Anselmo Borges no DN de hoje:

A final, já "se sabe" quando é o fim do mundo: no dia 21 de Dezembro deste 2012! Como se chegou a esta data fatal, cuja notícia invade muitos sítios da Rede?

O arqueólogo britânico Sir John Eric Thomson, um eminente mesoamericanista do século XX, mostrou as correlações entre um dos calendários maias e o nosso calendário. Segundo certos cálculos, a partir de um texto breve, descoberto nos anos 50 do século passado em Torturego, no México - quem quiser aprofundar a questão de modo breve e sério consulte o dossiê dedicado ao tema por "Le Monde des Religions", Nov.-Dez. de 2011 -, a contagem longa dos maias teria começado no dia 11 de Agosto de 3114 antes da nossa era e acabaria no solstício do Inverno do ano em curso, 21 de Dezembro de 2012.


Tanto bastou para que se desse, nos anos 80 do século passado, o começo de um movimento apocalíptico planetário, iniciado por José Argüelles, "maianista" americano convicto, isto é, partidário do maianismo, termo que designa as crenças New Age, apoiadas na mitologia maia. Em Le Facteur maya, publicado em 1987, afirmava que o dia 21 de Dezembro determinará uma transformação na consciência mundial bem como o início de uma nova era. Rapidamente percebeu que a aldeia global era um alvo ideal e o que é facto é que os sítios esotéricos e apocalípticos consagrados à "profecia maia" invadiram a Internet, e o cinema e a televisão associaram-se na difusão do rumor planetário desta catástrofe "profetizada" pelos maias e pretensamente confirmada por astrólogos e cientistas.


No entanto, se alguns incidem na angústia colectiva do fim do mundo, explorando uma certa depressão planetária, outros são menos alarmistas, informando que o que os maias sabiam é que o 21 de Dezembro será um "renascimento" e o "início de uma nova era mundial". "O fenómeno 2012 é totalmente indissociável da Web. É essencialmente por esse meio que se desenvolveu desse modo", explica Laure Gratias, jornalista e autora de La Grande Peur de 2012. "Em todos os sítios da Internet e em todas as obras consagradas a 2012, encontra-se esta afirmação categórica: as ideologias, as religiões e as filosofias mais diversas convergem no sentido de designarem 2012 como data do apocalipse".

É inevitável perguntar como é que se instala tanta crendice na mente das pessoas que aceitam como indubitável o fim do mundo no dia 21 de Dezembro próximo. Como diz Éric Taladoire, especialista das civilizações pré-colombianas, tentarmos repor a verdade sobre um falso fim do mundo é uma tarefa árdua, pois, por definição, "os que crêem nisso consideram-nos precisamente como mentirosos ou dissimuladores, participantes num vasto complô."

De facto, os maias não falavam tanto do fim do mundo como do fim de um mundo e da sua reciclagem, segundo um princípio de alternância e um movimento cíclico perpétuo: a vida acaba na morte e a morte dá lugar à vida, o termo de um ciclo é seguido de um renascimento. Os Livros de Chilam Balam não são a profecia delirante do fim do mundo, pois referem-se ao fim de um mundo, precisamente ao desabamento do seu mundo, no contexto da conquista feroz espanhola. Mas essa "catástrofe cultural e demográfica sem precedentes" não impediu um renascimento: os maias continuam vivos, mesmo se a sua cultura mudou.

É assim também no fim de um mundo que nos encontramos hoje. Vivemos num mundo aparentemente à deriva e sem controle e é como se caminhássemos inexoravelmente para o abismo. Como escreve É. Taladoire, "A nossa época atravessa uma crise de amplidão planetária. Ela manifesta-se em todos os domínios e é amplificada pela aceleração da informação: daí, a multiplicação dos rumores, das informações incontroláveis. A dúvida instala-se, dando lugar a teorias de maquinação. É neste terreno que prosperam os rumores apocalípticos, difundidos por gente sincera ou verdadeiros escroques. Os investigadores desenvolvem uma análise rigorosa, lógica, mas os 'crentes' refugiam-se no acto de fé. Os desmentidos científicos podem por vezes convencer os hesitantes, mas os partidários do complô só verão nisso a prova da amplidão das manipulações".

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