sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Cardeal Martini escreveu um livro sobre o que é ser bispo

O cardeal Carlo Maria Martini escreveu um livrinho (92 páginas, Ed. Rosenberg & Sellier) intitulado “Il vescovo”, (“O Bispo”). O “Correio da Tarde” transalpino publicou um excerto que pode ser lido aqui em português.


É responsabilizante que todos os católicos pensem nos seus bispos, já que não há Igreja católica sem bispos. É isso que é ser apostólica. A editora, de Turim, com obras como esta, quer “curar palavras” doentes para que voltem ao seu significado mais pleno. “Bispo” é uma delas.

No excerto lido há dias, três assuntos ficaram a pulsar ma minha mente e por isso trago-os hoje para aqui.

1. A pergunta de Montini (Paulo VI) que toda a Igreja, em todos os níveis, tem constantemente de fazer.
O arcebispo Montini, que ocupou a cátedra de Santo Ambrósio por mais de oito anos e depois se tornou o Papa Paulo VI, constantemente se fazia a pergunta: "O que o homem moderno pensará ou entenderá do que eu digo?" Importava muito a impressão que o seu discurso e a sua ação podiam criar sobre os não crentes e os não praticantes. 
2. A ressalva de Martini: Freiras e pessoas “da paróquia” não, por favor.
Pessoalmente, em Milão, eu instituí a Cátedra dos Não Crentes, com a qual eu entendia que também poderia pôr em cátedra os não crentes e aprender a escutá-los, mesmo que com uma escuta crítica. Uma das coisas as quais eu estava mais atento era que não se fizesse apenas uma lição acadêmica, mas que o relator soubesse escutar dentro de si as palavras que um rabino disse a alguém que o assediava com argumentos contra a existência de Deus: "Mas talvez seja verdade". 
É claro que a Cátedra dos Não Crentes pressupõe um ouvinte atento e qualificado, que exerça um juízo crítico sadio. O bispo julgará se se sente apto a propor um tal exercício um pouco "inquietante". Também por isso eu pedia que as irmãs, assim como as pessoas chamadas "da paróquia", não fossem.
3. A ilicitude de renunciar à arte e a dificuldade de pagar aos sacristães
Entre as acusações mais frequentemente dirigidas contra a Igreja há aquela de ser rica ou pelo menos ávida por dinheiro. As pessoas logo se dão conta se um padre é apegado ao dinheiro. Infelizmente, na Itália, a Igreja possui muitas obras de arte, igrejas e palácios importantes, embora, todos os dias, ela custe a encontrar o dinheiro necessário para pagar os seus colaboradores leigos, por exemplo os sacristães. Vendendo algumas dessas obras, se poderia obter muito dinheiro. Mas nós somos considerados como conservadores e responsáveis por todo esse tesouro: portanto, não é lícito renunciar a eles.

2 comentários:

Anónimo disse...

Este é um dos maiores problemas da Igreja... Como são escolhidos, por quem, com que critérios, ideias...

Anónimo disse...

Se calhar o primeiro, quiçá único critério, seja a subserviência cega à suprema hierarquia.

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No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...