terça-feira, 29 de novembro de 2011

A salvação cabe num livro. Ou numa colecção



Estive a folhear e a ler aqui e a li a bíblia humanista de A. C. Grayling, “O Livro dos Livros”. Não encontrei os 10 mandamentos que há pouco referi. Copiei-os daqui sem referir a fonte – o que não será lá muito ético.

Esta curiosa bíblia, de capas cartonadas, é composta de 14 livros, do Génesis a O Bem. São eles: Génesis, Sabedoria, Parábolas, Concórdia, Lamentações, Consolações, Sábios, Canções, Histórias, Provérbios, O Legislador, Actos, Epístolas, O Bem.

Gostei especialmente das Parábolas, que são histórias e mitos, e dos Actos, que são episódios mais ou menos históricos. Cenas instrutivas. Só é pena não indicar as fontes. Seriam excelentes livros de cultura geral. Os Provérbios são como os bíblicos (que também nunca referem Deus): curiosos, iluminadores. Por vezes fazem sorrir. Cito de cor, porque decorei para outras ocasiões: “Quem morre junta-se à maioria”. “Quem procura falhas não encontra outra coisa”.

O livro dos Actos segue-se a O Legislador. Não verifiquei se o Legislador é o redentor, correspondendo, nesse caso, aos Evangelhos. Mas tudo indica que sim.

No fundo, este livro quer uma salvação, intramundana, histórica, para viver nos nossos 80 ou 90 anos, sem Deus. O objectivo tem algo de gnóstico. A sabedoria redime, pensa Grayling. E cabe num livro, numa série de livros, vá lá, numa enciclopédia ou numa biblioteca. Não. A sabedoria não redime, dizem os cristãos, nem cabe em nada deste mundo. Só o amor redime e esse é pessoa, sendo também sabedoria.

Como é possível ter uma ideia da Bíblia cristã lendo o primeiro e o último versículos (não digo o que dizem; se não sabe, abra a Bíblia e leia), revelo o que dizem o primeiro e último versículos desta bíblia:

Génesis 1,1: No jardim ergue-se uma árvore. Na Primavera, floresce; no Outono, frutifica. 1,2: O seu fruto é a sabedoria, ensinando o bom jardineiro a compreender o mundo.

O Bem 9,10: Ajudemo-nos, então, mutuamente; construamos a cidade juntos, 9,11: Onde possa existir um futuro melhor, e onde a verdadeira promessa da humanidade possa, por fim, ser cumprida.

Resta dizer que gostei de ler o livro no sofá da livraria e agora estou na habitual fase de quarentena (duas a três semanas) a ver se resisto ou cedo ao investimento de mais de 20 euros.

4 comentários:

Anónimo disse...

«Desfolhar»??? Não será que queria dizer «folhear»???

Jorge Pires Ferreira disse...

Sim, é folhear. Obrigado pela emenda. Percebeu o que quis dizer, porque não rasgam livros numa livraria, mas vou emendar.

Anónimo disse...

Caro Jorge,
A sua pesquisa é muito interessante! Obrigado por ter partilhado!

Espero que aguente a quarentena!
Caso contrário, levará para casa um bom livro.

Saudações,
Paulo C.

Jorge Pires Ferreira disse...

Obrigado pelas palavras simpáticas, Paulo C.

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