domingo, 15 de maio de 2011

Bispo William Morris afastado por ser próximo do povo

D. William Morris

Houve quem afirmasse que o primeiro fruto da beatificação de João Paulo II, no dia 1 de Maio de 2011, foi a morte de Bin Laden nesse mesmo dia. Não imaginava que uma beatificação tivesse de dar frutos, muito menos implicando a morte, coisa que o ser humano, na perspectiva católica, não tem legitimidade para provocar.

Sabendo da comunhão entre o papado wojtyliano e o ratzingeriano – há-de ficar sempre na memória o beijo de Bento XVI na ampola do sangue de João Paulo II, sinal de um cristianismo que, não descartando a medievelice das relíquias, há-de significar cada vez menos para o mundo –, mesmo que não seja fruto de beatificação, não foi com certeza coincidência a decisão de, no dia 2 de Maio, afastar o bispo D. William Morris da diocese australiana de Toowoomba.

O que fez D. William Morris, 67 anos (os bispos, excepto o Papa, devem pedir a resignação aos 75 anos), bispo de uma diocese maior em extensão do que a Alemanha, mas apenas com 66 mil católicos em 35 paróquias?
* Veste uma gravata, bordada com o seu brasão de armas, em vez do colarinho romano. Oferece a cada padre uma gravata preta com o brasão de armas diocesano como veste clerical; 
* Promove a absolvição geral (prevista no ritual da confissão) como uma alternativa à confissão pessoal dos pecados; 
* Propõe a necessidade de explorar a ordenação de homens casados e de mulheres e o reconhecimento dos ministérios ordenados de outras Igrejas cristãs 
* Incentiva o diálogo e a colaboração com medidas como a criação de um conselho pessoal; consulta as pessoas das paróquias antes de recomendar um padre como pároco; 
* Realiza assembleias diocesanas para revigorar a vida pastoral da diocese fazer o plano pastoral diocesano; 
* Toma as decisões consultando o povo. Afirmou: "Eu realmente acredito que as pessoas precisam de uma voz. Se o bispo na comunidade local não der voz às preocupações das pessoas... bem, então eles certamente não vão ter voz". E ainda: "A Igreja é o povo, e o Concílio Vaticano II deixou isso muito claro. Eles têm uma voz e um coração, e é terrivelmente importante para eles manter essa voz e interpelar os seus bispos, através de seus conselhos paroquiais, de seus conselhos pastorais diocesanos, através de todos os mecanismos" que existam, e que os bispos "permitam que suas vozes sejam ouvidas na Igreja e no mundo, para que o Espírito fale através de toda a Igreja e não presumivelmente apenas através de alguns poucos".
Algumas pessoas não gostavam das decisões do bispo e começaram a escrever para o Vaticano, que abriu um processo ao bispo australiano em Dezembro de 2006. O processo encerrou-se no dia 2 de Maio com a remoção do bispo.

Ler aqui sobre o que fazia o bispo e aqui sobre o seu diálogo com o Vaticano.

A minha opinião? Pelo que li, parece-me sensato e evangelicamente preocupado com o seu povo. Era um bom bispo. Tinha o apoio de quase todos os seus padres, mas não do conservadorismo central da Igreja. Só três dos padres da sua diocese não assinaram um documento de apoio; os bispos australianos parecem concordar com ele, mas não podem discordar do Vaticano. Ou estou muito errado, ou D. Williams está a abrir caminho e um dia será reconhecido e reabilitado.

15 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo tratamento dado a este caso. É pena que a nossa imprensa tivesse ficado por meras referências telegráficas. Este bispo há-de ser recordado, num futuro que esperamos não muito distante, como precursor de uma profunda reforma na Igreja.
No fundo, ele é removido por não seguir normas eclesiásticas. Mas o importante num bispo não será seguir o estilo de Jesus'
Ora, em Jesus nada do que praticou D. Morris está desautorizado.
É natural que o Papa tenha o seu pensamento. O que não é curial é que estigmatize quem pensa e age de modo diferente.
Se a Igreja é o povo, com que legitimidade é que se afasta alguém apreciado pelo povo?
Como é que se envia um bispo americamo para estudar uma questão na Austrália?
O que pensaria Jesus disto? E os apóstolos?
Será que é na Igreja que menos encontramos Jesus?
Só quando houver um grande clamor popular a Igreja mudará. Um clamor sereno, mas determinado poderá mudar muita coisa.
O poder é sensível às multidões, e o poder eclesiástico gosta particularmente dos aplausos.
Creio que foi Hans Kung (outro proscrito) que disse que, na Igreja, um não conta, cinco levam a pensar e cinquenta podem mudar uma situação.
Depois, estes métodos de delação fazem lembrar os regimes ditatoriais. Ora, Jesus veio para nos libertar.
Não pondo em causa a seriedade de João Paulo II, há que reconhecer que o seu modelo de Igreja não é o único. E não será o mais próximo de Jesus.
E a santidade não pode ser aferida apenas pela relação com a instituição Igreja. A santidade decorre, antes de mais, do seguimento de Jesus.
Parabéns pelo blog e continue a trazer para as clareiras o que está na penumbra.

Anónimo disse...

Parabéns pelo tratamento dado a este caso. É pena que a nossa imprensa tivesse ficado por meras referências telegráficas. Este bispo há-de ser recordado, num futuro que esperamos não muito distante, como precursor de uma profunda reforma na Igreja.
No fundo, ele é removido por não seguir normas eclesiásticas. Mas o importante num bispo não será seguir o estilo de Jesus?
Ora, em Jesus nada do que praticou D. Morris está desautorizado.
É natural que o Papa tenha o seu pensamento. O que não é curial é que estigmatize quem pensa e age de modo diferente.
Se a Igreja é o povo, com que legitimidade é que se afasta alguém apreciado pelo povo?
Como é que se envia um bispo americano para estudar uma questão na Austrália?
O que pensaria Jesus disto? E os apóstolos?
Será que é na Igreja que menos encontramos Jesus?
Só quando houver um grande clamor popular a Igreja mudará. Um clamor sereno, mas determinado poderá mudar muita coisa.
O poder é sensível às multidões, e o poder eclesiástico gosta particularmente dos aplausos.
Creio que foi Hans Kung (outro proscrito) que disse que, na Igreja, um não conta, cinco levam a pensar e cinquenta podem mudar uma situação.
Depois, estes métodos de delação fazem lembrar os regimes ditatoriais. Ora, Jesus veio para nos libertar.
Não pondo em causa a seriedade de João Paulo II, há que reconhecer que o seu modelo de Igreja não é o único. E não será o mais próximo de Jesus.
E a santidade não pode ser aferida apenas pela relação com a instituição Igreja. A santidade decorre, antes de mais, do seguimento de Jesus.
Parabéns pelo blog e continue a trazer para as clareiras o que está na penumbra.

Alx disse...

"Ou estou muito errado, ou D. Williams está a abrir caminho e um dia será reconhecido e reabilitado."


-Ainda em vida!?

(Tenho as minha dúvidas...)
E obrigado, não conhecia a história!

disse...

Permitam-me discordar um pouco. Eu concordo com as acções, do bispo, concordo que as coisas têm que dar uma volta, concordo que nos arriscamos seriamente a ficar anacrónicos se não fizermos nada. Mas teria muito cuidado em caucionar gestos e atitudes que não estão, de todo,em sintonia com o Vaticano. Por muito que isso nos custe, a Unidade da Igreja é fundamental sob pena de nos perdermos a todos em nome de supostas modernidades. Estas coisas levam tempo, eu sei,e é difícil conciliar o nosso tempo feito de novidades quotidianas com o tempo da Igreja. Mas acredito que é justamente essa resistência ao tempo que tem permitido à Igreja permanecer como A referência.

Anónimo disse...

Com todo o respeito por este último irmão, há aqui um equívoco que pervade em todas as atitudes repressivas. Confunde-se unidade com uniformidade. Nos inícios, não era assim. Não se via na diferença uma quebra de unidade. Se reperar, quem feriu a unidade não foi o bispo, que nunca pôs em causa a autoridade de Roma, mas Roma, que não aceitou um caminho diferente.
De resto, a unidade da Igreja não assenta no Vaticano (expressão, aliás, totalmente a-teológica, para não dizer anti-teológica), mas em Jesus.
S. Paulo repete que há um só Cristo e o próprio Cristo refere que na Casa do Pai há muitas moradas.
Concordo que é preciso paciência, mas isso já a tem tido o povo de Deus, ao longo de séculos. Paciência não impede determinação.
O autor do blog tem razão: um dia, ouviremos falar de D. Morris como um precursor (quase um mártir) das mudança serena na Igreja de Jesus. De Jesus, não do Vaticano!
Abraço fraterno.

Anónimo disse...

Uma conversa interessante.
Mas permitam-me discordar de algo que aqui foi dito. Considero que Williams tb n é lá muito próximo de Jesus como dizem... Parece-me mais próximo de um político do povo do que necessariamente de Jesus... Isto não lhe retira a qualidade da sua reflexão pastoral, mas não confundamos as coisas.
Quanto a percursor na Igreja, ou quanto às posições de Hans Kung, enquanto não houver bom estudo e boa teologia entre estas conversas, entre a Igreja e sobretudo os leigos (e leigas), não há mudanças – ou melhor, não há maior fidelidade a Cristo.
E, ainda nem o Vat. II está totalmente recebido quanto mais novos vôos...
Criticar e apontar soluções é fácil – mas haverá discernimento suficiente nestas questões? Saberemos o que estamos a propor?
Como sabemos, a Igreja não é uma nação que se possa reger por leis que se alteram em parlamento. Não falo de democracia, mas de argumentação. Pois as leis podem-se alterar em certa medida, mas para assim acontecer, tais novas leis têm de ser fundamentadas na Biblia e na Tradição, de contrário pouco peso têm e pouco convencem.
E não é possível fazer uma afirmação só porque temos uma ideia de Jesus... Sobretudo porque cada um de nós não faz nem um grão de mostarda do que Jesus fez ou é... É bonito olharmos Jesus pois Ele é o exemplo, a Norma, o Verbo incarnado, o Filho de Deus. Porém, há um caminho, há pentecostes, há Espírito Santo Paráclito que foi enviado aos apóstolos. E há pecado na Igreja seja com o hábito de uma gravata seja com uma veste comprida...
Há suficientes divisões nas nossas igrejas cristãs, e tais divisões surgiram exactamente de fundamentações teologicas diferentes, em que se deu um peso teologico diferente aos vários depósitos da fé. E isso sempre será assim ao longo dos tempos, enquanto nós – os crentes cristãos – não pusermos os olhos nos estudos... E com tanta informação que existe, já deviamos estar mais esclarecidos... Pode parecer que estamos mais esclarecidos.. Pode parecer... mas pelos argumentos e fundamentos que frequentemente encontro nas nossas comunidades, media, net, blogs, etc., afirmo claramente que ainda estamos longe.
Estudar custa, leva tempo e nem todos gostam de o fazer. Mas é necessário. Urgente até!

Perdoem-me, mas a prédica não é para os comentadores e nem sequer para o autor do blog! Quis apenas aproveitar a ocasião para apelar os leitores para o estudo teológico! Que este blog continue a acirrar o espírito humano para que procuremos aprofundar cada vez mais a teologia!
Paulo C.

Anónimo disse...

É muito estimulante o diálogo entre irmãos. E é em nome desse diálogo que gostaria de chamar a atenção para os perigos de uma certa «hermenêutica do conformismo», que parte do princípio de que a autoridade tem sempre razão.
É claro que o ideal é haver consenso, mas se estamos à espera de que a autoridade promova a mudança, nenhuma transformação se fará.
Jesus, o paradigma maior, ilustra bem tudo isto.
Ele foi visto e condenado como um dissidente.
Acredito, porém, que na paz novos caminhos serão percorridos.

Anónimo disse...

Está tudo dito e escrito. Quando se diz que "promove" a absolvição geral relativamente à confissão indivudual percebe-se logo... Quanto à gravata acho que é uma falta de senso total. Sabemos bem que no caso dos sacerdotes o hábito é de cada diocese, mas no caso dos bispos é de certeza absoluta um caso único. Acho que o Vaticano faz e muito bem pôr na linha certos aventureiros. Recordado? Não me parece. Como dizem na minha terra: é uma "pantominice".

Anónimo disse...

Assustei-me com o último comentário à gravata... "falta de senso"!? Não queria dizer falta de estética?
O Vaticano não o pôs na linha... Afastou-o dela.
Mas com comentários destes, não admira que se fale em «hermeneutica do conformismo»... Por mim, sou mais sensível à errada «hermeneutica da dicotomia» - leigo/clero ou Santa Sé/dioceses ou Papa/"eu-cá-tenho-a-minha-fé ou Católicos/"maus da fita" ou Cristãos/outros-que-acreditam-de-forma-diferente-da-minha...
É isto que me preocupa.

Paulo C.

Anónimo disse...

Valha-nos Deus, se fica assustado com a falta de senso?... Estética? Isto não é um desfile nem muito menos arte...

Anónimo disse...

Um desfile não é porque não se trata de moda, mas arte e estética claro que estão presentes, nem que seja para salvaguardar da vaidade e manter os elementos essenciais que marcam o cariz religioso da veste e ornamentos.
Agora, pelo bom senso é que os hábitos religiosos não se regem de certeza...

Paulo C.

Anónimo disse...

Senso - Juízo claro.

Anónimo disse...

Reconduzamos a questão ao essencial. D. Wiliiam Morris dissente da autoridade da Igreja, mas nada prova que dissinta de Jesus.
Eu diria que é possível coexistirem, na mesma Igreja, várias aproximações e abordagens.
Só não se entende que uma exclua as outras.
Em nome de quem? De Jesus não será com certeza.
Ele abriu caminhos. E não fechou portas.

Anónimo disse...

Mas por isso mesmo é que foi afastado de bispo. Há muita confusão entre Igreja e igrejas... D. Morris provavelmente serviria melhor uma igreja da reforma de Lutero, que, vistas bem as coisas, onde é que estas "dissentem" de Jesus?

Anónimo disse...

Lutero foi um grande cristão, um grande amante da Palavra de Deus, um santo, mesmo com os seus defeitos. Para que estigmatizar irmãos na fé?

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