quarta-feira, 27 de outubro de 2010

''No diálogo inter-religioso, nem sequer as verdades incómodas devem ser escondidas''

"E onde está a novidade? Desde sempre se soube que no Alcorão também está prevista a morte de cristãos com a espada. O bispo Raboula Antoine Beylouni simplesmente lembrou isso sem trair nenhuma verdade. Não são esses os motivos que colocam em risco as relações cristão-islâmicas".

O cardeal francês Jean-Louis Tauran, 67 anos, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-Religioso, não parece preocupado por, no Sínodo [para o Médio Oriente, que terminou no domingo passado], ter sido lembrado que é o próprio livro sagrado dos muçulmanos que prevê a eliminação dos cristãos.

"Infelizmente é assim, e se fingirmos que não há nada, fazemos um mau serviço à verdade histórica", indica o purpurado que, no Vaticano, depois do Papa, é a máxima autoridade sobre o Islão.

Texto de Orazio La Rocca, no jornal “La Repubblica” (Itália) de 23-10-2010. Traduzido por Moisés Sbardelotto. Copiado daqui.


Cardeal Tauran, mas o senhor não teme que o diálogo com o Islão agora seja mais difícil?

Não. Quem conhece o Alcorão sabe que, naquelas páginas, está verdadeiramente escrito que os cristãos podem ser mortos. Basta simplesmente ler o texto sagrado dos muçulmanos. Por isso, não pensa que o diálogo com o Islão possa ser comprometido por aquilo que foi reforçado no Sínodo. Não é o conhecimento da verdade que pode colocar em crise as relações entre fiéis de religiões diferentes.

Porém, quando Bento XVI, em 2006, na Alemanha, tocou nos mesmos argumentos, os muçulmanos sentiram-se ofendidos, e ele foi obrigado a pedir desculpas.

São dois episódios diferentes. Em Regensburg, o Santo Padre foi vítima de um colossal equívoco amplificado pelas notas de agências de imprensa que se limitaram a difundir só breves trechos da sua “lectio magistralis”. Equívoco prontamente esclarecido pelo próprio Santo Padre, como em seguida muitos líderes muçulmanos recebidos no Vaticano ou encontrados durante as viagens apostólicas reconheceram. Outra coisa é a intervenção de D. Beylouni no Sínodo, em que o prelado simplesmente lembrou o que realmente está escrito no Alcorão.

O senhor não acredita que, reafirmando verdades históricas tão incómodas, o diálogo entre cristãos e muçulmanos se complique a favor de extremistas e fanáticos?

Dou-me conta de que tocar em certos assuntos, às vezes, pode fazer mal. Mas se queremos verdadeiramente promover o diálogo inter-religioso, as verdades, mesmo as incómodas, não devem ser escondidas. O importante é se conhecer e dialogar. O verdadeiro desafio é outro: quantos, no Oriente Médio, ficaram sabendo que, no Sínodo, um sunita e um xiita se pronunciaram? E quem conhece os esforços comuns que líderes cristãos e muçulmanos fazem em defesa da vida? O verdadeiro desafio é fazer com que as massas islâmicas conheçam todos esses pequenos passos importantes. Só assim o diálogo poderá crescer e frutificar.

Sem comentários:

Só há doze bispos no mundo. São todos homens e judeus

No início de novembro este meu texto foi publicado na Ecclesia. Do meu ponto de vista, esta é a questão mais importante que a Igreja tem de ...