quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Pensar República, questionar presença na sociedade

República
Communio. Revista Internacional Católica
Janeiro / Fevereiro / Março de 2010
130 páginas

Saído há um par de meses (embora com data do primeiro trimestre deste ano), a revista “Communio” tem como tema principal a “República”, mas não a aborda em exclusivo na perspectiva dos 100 anos da sua implantação em Portugal. Na verdade, mais estimulante do que evocar esse momento histórico é analisar o que significa o regime da República em algumas das suas formas históricas. Este número da “Revista Internacional Católica” pretende, pois, ser espaço para “uma reflexão sobre a República enquanto modo se pensar e organizar a colectividade humana nesse registo específico que é a experiência da cidadania”. E consegue-o em quatro ou cinco artigos, todos informativos, mas alguns especialmente polémicos e provocadores para a tal experiência da cidadania que, na perspectiva crente, adquire um sentido mais profundo ao ser iluminada pela revelação cristã (clicar na imagem para ler títulos e autores).

Exemplo dos artigos informativos são os de João Seabra e Luís Machado de Abreu, respectivamente “A «Lei da Separação» de 1911” e “Perspectivas sobre o anticlericalismo português”.

O primeiro volta à eterna questão da “Lei da Separação”, para dizer que se tratou de “uma vergonha (…) para a história democrática do país”, na medida em que a Lei “foi o instrumento principal de uma campanha política, legislativa, escolar, cultural, jornalística, por vezes militar, que tinha como objectivo erradicar o catolicismo de Portugal”. Se o artigo tivesse sido escrito depois da vinda de Bento XVI a Portugal, talvez os termos a usar fossem outrom, porque, recorde-se, o Papa afirmou o que muitos outros pensam: que a República, ainda que por linhas tortas, criou espaços de liberdade à Igreja portuguesa. Há males que vêm por bem.

O segundo traça um retrato do anticlericalismo de há 100 anos para cá, contra a ideia de que ele tenha sido “de uma peça só e não uma realidade multifacetada e complexa”.

Artigos provocadores, na medida em que obrigam a repensar comportamentos, são os de Isidro Lamelas e Luís Salgado Matos. O primeiro analisa o pensamento dos cristãos das eras pós-apostólicas para concluir sobre a impossível deserção da cidade terrena. O segundo, num artigo sobre “igrejas cristãs e revolução política”, defende que as revoluções, até à da Comuna de Paris, em 1871, são sempre assumidas e por vezes lideradas pelos cristãos. Mesmo a Francesa, de 1789 (como depois acontece a oposição é motivo para voltarmos a este assunto). No final do artigo, olhando para a actualidade, o investigador afirma que a Igreja católica, hoje, “tem a simétrica oportunidade de ser reaccionária”, não na questão social, porque defende os trabalhadores, os imigrantes, a família, quase sempre contra o Estado, mas na questão científica, por “acentuar as conclusões práticas da sua condenação das ciências da natureza”. Discutível.

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