sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

D. Carlos Azevedo: "Artifícios ou sacrifícios"

No Correio da Manhã, o bispo auxiliar de Lisboa diz que os católicos presentes na vida pública têm responsabilidade acrescida no valioso serviço à pátria

Artifícios ou sacrifícios

O ‘grande teatro do mundo’ português soma cenas e cenários, multiplica actores e afasta personagens, em rodopiante vertigem, infelizmente abismal. Descobrem-se falhas de carácter mas os dotes de persuasão tudo apagam; investigam-se crimes graves no peso ético mas os processos enredam-se sem fim, numa justiça doente; verificam-se engenharias ou melhor engenhocas financeiras que infernizam pessoas bem intencionadas e ninguém é responsabilizado; exportam-se jovens sábios e experimentados sabedores deixam o país à procura de saídas para os seus problemas; inventam-se antagonistas para, na divisão, fomentar hostilidades.

Era aqui que me queria deter, por hoje. Superar divisões artificiais é serviço à pátria, se ainda há amor cívico de autênticos compatriotas. Tanto é bom para a sociedade que não se abafem divergências sobre as formas de orientar o destino colectivo da nação, como é nocivo fomentar conflitos sem real e profunda diferença de visão sobre o futuro. Uma estratégia rigorosa e consistente, não meramente economicista, antes sustentada no sistema educativo e judicial, sustentará a esperança a médio e longo prazo.

O momento atribulado que o nosso Portugal atravessa não pede fracturas, mas unidade de esforços que permitam planear corajosas e drásticas medidas, sacrifícios de todos, em vez de artifícios de uns poucos, sem respeito pela realidade. Não é hora para fogos-de-artifício politiqueiro, antes para pés na terra e olhar no futuro.

São de saudar todas as intervenções decorrentes da natureza social do ser humano, presentes na bondade espontânea do povo português, e que tenham em vista ultrapassar a atmosfera de guerra, que o império absoluto da comunicação social indaga, orienta ou promove.

Até quando resistirão os artifícios financeiros e políticos, até quando cederá o cupulismo partidário à tentação do domínio das bases e negligenciará o bem comum do país?

Um deficit de sensatez campeia nas hostes. Pede-se a cada patriota que redefina a sua responsabilidade no delinear de caminhos exigentes, sólidos e eficazes, que nos permitam relançar a esperança. Políticos apaixonados pelo bem comum e determinados, sem medo das reformas sérias e de antagonismos manobrados e artificiais. Venham sacrifícios justificados, explicados e medidos nas consequências. É hora para uma reconciliação entre sensibilidades políticas, completando-se para uma visão maior, e facilitando uma acção colectiva. Os católicos presentes na vida pública têm responsabilidade acrescida nesse valioso serviço à pátria.

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