sexta-feira, 31 de julho de 2009

DSI 25: Da RN à CV, a "Centesimus Annus" (2)

Consumismo e a questão ecológica

A encíclica Ano Centenário ("Centesimus Annus", CA), escrita no rescaldo da queda das ditaduras de esquerda do Leste Europeu, reconhece que o mercado livre (ou seja, o capitalismo) é – na verdade, a CA diz: “parece ser” – “o instrumento mais eficaz para dinamizar os recursos e corresponder às necessidades” (CA 34). Realça, no entanto, que “a actividade económica não se pode realizar num vazio institucional, jurídico e político”, contra os gurus da desregulamentação. Por outro lado, reconhece, na sequência, a “justa função do lucro”. O lucro é “indicador do bom funcionamento da empresa: quando esta dá lucro, isso significa que os factores produtivos foram adequadamente usados e as correlativas necessidades humanas devidamente satisfeitas” (35). Não é pecado ter lucro quando se salvaguardam os “outros factores humanos e morais”, “igualmente essenciais para a empresa”. Falta grave, perante a sociedade e a comunidade de trabalhadores, é a má gestão, a incapacidade de gerar resultados positivos…

Mas a CA chama a atenção para “problemas específicos” e “ameaças que se levantam no interior das economias mais avançadas”. O primeiro problema é o consumismo com os seus “estilos de vida objectivamente ilícitos e frequentemente prejudiciais à saúde física e espiritual”. João Paulo II nota que o sistema económico não tem critérios para classificar as necessidades humanas, pelo que é “urgente uma grande obra educativa e cultural” sobre o poder de escolha dos consumidores.

Outra ameaça é a questão ecológica, ligada ao consumismo: “A pessoa, tomada mais pelo desejo de ter e do prazer do que pelo ser e de crescer, consome de maneira excessiva e desordenada os recursos da Terra e da sua própria vida” (37).

Por muitos outros motivos (a empresa como comunidade de trabalho, o conhecimento como nova mercadoria, o papel do Estado…), esta encíclica mantém actualidade, mesmo com a saída da "Caritas in Veriate". Como todas, deve ler-se com atenção, tendo em conta que a Igreja “não tem modelos [económicos] a propor” (43), mas tem a obrigação de lembrar os valores que devem ser respeitados por todos e quaisquer modelos.

Imagem: Cartoon de Luís Afonso no Jornal de Negócios de 5 de Maio de 2008

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