quinta-feira, 23 de julho de 2009

DSI 21 - Da RN à CV: A "Laborem Exercens"

A encíclica do trabalho humano

João Paulo II dedica a primeira das suas três encíclicas ao trabalho. O trabalho é a chave da questão social, bem fundamental para a pessoa, factor primário da actividade económica.

O trabalho humano e o desenvolvimento dos povos (que, obviamente, se alicerça no trabalho dos seus membros) são os dois fios condutores a que se agregam todos os documentos da Doutrina Social da Igreja. Neste aspecto, a Igreja é um pouco marxista, visto que põe o trabalho no centro das questões sociais. No entanto, não retira daí as mesmas conclusões. Mais do que marxista, será "marxiana"?

Logo no primeiro parágrafo, João Paulo II afirma que trabalhar é muito mais do que uma questão individual de ganhar o sustento: “Mediante o trabalho [«Laborem exercens» - LE] deve o ser humano ganhar o pão de cada dia, contribuir para o progresso da ciência e da técnica, e sobretudo para a incessante elevação cultural e moral da sociedade, na qual vive em comunidade com os outros irmãos”.

Ao longo do documento o Papa polaco “delineia uma espiritualidade e uma ética do trabalho, no contexto de uma profunda reflexão teológica e filosófica” (CDSI, 101). Sem nunca perder de vista o ideal do pleno emprego (“encontrar um emprego adaptado para todos aqueles que são capazes de o ter”), João Paulo II olha para o trabalho na actualidade e ilumina-o com uma “espiritualidade do trabalho”, do Génesis à Ressurreição de Cristo. O Papa fala da mecanização e automatização do trabalho, da “mercadoria” em que não deve transformar-se, dos sindicatos, do salário justo, do trabalho dos portadores de deficiência, da emigração. Quanto à espiritualidade, em resumo, trabalhar é “participar na obra do Criador”, é «co-laborar» com Deus. Mais alta do que isto, a dignidade do trabalho não podia estar. Por isso, o desemprego além de drama humano é drama teológico.

A LE estava para ser publicada no dia 15 de Maio de 1981, quando se completavam os 90 anos da “Rerum Novarum”, mas foi adiada para 14 de Setembro, visto no dia 13 de Maio João Paulo II ter sofrido o atentado na Praça de São Pedro.

Apesar de publicada pelos 90 anos da RN, nem uma única vez cita a encíclica inaugural. Escrita por um papa que chegou a ser operário, a LE marca um estilo novo de doutrina social.

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