quinta-feira, 25 de junho de 2009

Liberdade, Cristo e ateísmo

O que é ser livre? Quem pode ser livre? O cristão, acreditando que, em última análise tudo depende de Deus, pode ser livre? Se Deus for o Senhor do universo e do para-lá-do-universo, da vida e do para-lá-da-vida, do ser e do para-lá-do-ser, o homem será independente e livre?

Os cristãos pensam que sim. São mais livres porque acreditarem em Deus-Pai e em Jesus Cristo, o libertador. Pensam, segundo o exemplo de Cristo, que quanto maior for a dependência filial, maior será a liberdade. Pensam que a verdade, seja qual for, libertará.

Os ateus dizem o contrário, que é preciso matar Deus, apagá-lo da sociedade e das mentes, das aulas, das artes, das praças, da vida. Esquecê-lo. Ignorá-lo. Suprimi-lo. Em nome da verdade e da liberdade.

“Só o homem ateu pode ser livre, porque Deus é incompatível com a liberdade humana. Deus pressupõe a existência de uma providência divina, o que nega a possibilidade de escolher o próprio destino e inventar a própria existência. Se Deus existe, eu não sou livre; por outro lado, se Deus não existe, posso libertar-me. A liberdade nunca é dada. Ela constrói-se no dia-a-dia. Ora, o princípio fundamental do Deus do cristianismo, do judaísmo e do Islão é um entrave e um inibidor da autonomia do homem”, assim pensa Michel Onfray, na linha de Nietzsche, como disse numa entrevista à Veja (Brasil).

Esta é a linha comum dos ateísmos mais ou menos militantes.

Zizek, porém, afirmando-se materialista dialéctico, diz algo diferente. Em "A Monstruosidade de Cristo" (Relógio d’Água), afirma que Jesus, ao encarnar, faz-nos perder a transcendência paternal. Leva-nos a assumir a responsabilidade pelas escolhas. "Quando as pessoas imaginam toda a espécie de sentidos profundos porque as 'assustam as palavras que dizem: Ele fez-se Homem', aquilo que na realidade receiam é perderem o Deus transcendente que garante o sentido do universo, Deus como o senhor oculto que move os cordelinhos - em seu lugar encontramos um deus que abandona a sua posição transcendente e se precipita na sua própria criação, comprometendo-se com ela até à morte, o que faz com que nós, seres humanos, fiquemos sem qualquer Poder superior que olhe por nós, sem outra coisa que não seja o terrível fardo da liberdade e da responsabilidade pelo destino da criação divina e, portanto, do próprio Deus. Não continuaremos hoje a recear demasiado todas as consequências dessas palavras?"

Insistindo na última ideia: a encarnação de Cristo não será o maior incentivo à liberdade humana?

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