sexta-feira, 19 de junho de 2009

“Deus está de volta”


O livro chama-se “God is Back: How the Global Revival of Faith is Changing the World” (algo como “Deus está de volta: Como o renascimento global da fé está a mudar o mundo”), de John Micklethwait e Adrian Wooldridge, na Penguin Press. Um é católico, o outro é ateu (não sei qual deles é o quê). Ambos são jornalistas da “Economist”.

Uma leitura sumária de críticas (na “Sábado” de 18 de Junho, no FT.com, no site da Amazon) revela o teor do livro: o capitalismo é benéfico para a religião e a religião é benéfica para o capitalismo. E isto faz-se por duas vias: 1.ª, o capitalismo, com a mudança permanente, deixa as pessoas vulneráveis e fá-las procurar segurança na religião; 2.ª, a religião usa os meios do capitalismo – a tecnologia e os mercados – para se expandir.

Mas o livro fala também de uma mudança de percepção na Europa, que vai “Da Necessidade de Ateísmo” (título do primeiro capítulo, que começa com a expulsão de Oxford do poeta Percy Bysshe Shelley, por ter escrito um panfleto precisamente intitulado “A Necessidade do Ateísmo”), às “Guerras culturais globais”, ao “Aprender a viver com a Religião” (conclusão).

O livro tem uma visão global, ainda que realce o arco Europa – EUA. A religião, dizem, está a deixar de ser vista como uma força da ignorância e obscurantismo. É “uma grande força para o progresso social no mundo em vias de desenvolvimento”. Sobre o Pentecostalismo dizem que “dá às pessoas uma predisposição psicológica para os conduzir ao capitalismo, pela sua ênfase na disciplina, nos hábitos, na poupança, na preservação da família”.

Quatro comentários à queima-roupa (como disse um crítico, quando não se sentir inspirado para escrever uma crítica, em último recurso, leia o livro):

* Quantas vezes já se falou de regresso do religioso, da fé, do sagrado? Muitas. Desde finais dos anos 80 que se fala disso e dos “rumores dos anjos”, da secularização frustrada… Agora acrescenta-se a globalização e a Internet.

* A tese do refúgio na religião não se assemelha àquela do senhor de barbas que mais criticou o capitalismo, cujo nome num livro dos anos 50 era traduzido por Carlos Marques?

* A tese de o Pentecostalismo ajudar ao capitalismo (ou criar a predisposição para tal) não é a mesma que a de Max Weber com o seu “A ética protestante e o espírito do capitalismo?”

* Finalmente, este livro insere-se numa observação que já tem pelo menos uma década: “Deus, outrora menos vivo do que se julgava, está menos morto do que se diz” (Jean Delumeau).

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